Atos e intenções: Desvendando a verdadeira natureza da fé — uma concisa reflexão baseada em Atos 5:1-11 com aplicações para a vida
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Texto bíblico: Atos 5:1-11
Introdução
Um artigo publicado no site “Meu Pet” em 2022, sob o título “Galinha choca ovos para pata e trata patinhos como seus filhotes”1, me fez lembrar de um antigo desenho animado de TV. A história foi compartilhada por Thiago José, um consultor de agronegócios e investidor, que testemunhou o evento em sua propriedade rural. Uma galinha, de alguma forma, encontrou seu caminho até o ninho de uma pata, chocou os ovos e agora está convencida de que é a mãe dos patinhos, que a seguem para todos os lugares.
Thiago, que reside na cidade de Divinésia, em Minas Gerais, registrou em vídeo que, desde o momento em que os ovos eclodiram, a galinha começou a cuidar dos patinhos como se fossem seus próprios filhotes. Onde quer que eles vão, ela os segue, e vice-versa.
A galinha é extremamente protetora com seus “filhotes”, nunca os deixando sozinhos. No entanto, o que mais emociona Thiago é quando os patinhos entram na água — algo natural para eles, mas não para a galinha. Como ela não pode nadar, tudo o que pode fazer é ficar na margem do lago, claramente ansiosa, enquanto observa seus pequenos se divertirem na água.
Na verdade, isso não é tão raro. Imagino que alguns membros da igreja já tenham tido experiências semelhantes em suas propriedades. Não é incomum vermos diferentes espécies convivendo harmoniosamente em nossos quintais.
Será que nas igrejas também existem vidas de naturezas distintas convivendo pacificamente? Refiro-me aos que são genuinamente filhos de Deus e aos que não o são. Assim como um patinho que segue uma galinha, ou um pintinho que segue uma pata, isso não interfere em suas naturezas; a convivência de um indivíduo não salvo com um filho de Deus não o torna salvo, a menos que nesse percurso ocorra o que Jesus chamou de “novo nascimento” (João 3:3). A história de Ananias e Safira em Atos 5:1-11 ilustra isso de maneira poderosa: eles conviviam com os salvos, mas eles eram salvos?
O que o episódio bíblico tem a nos ensinar sobre o assunto. Vejamos:
1. É possível estar entre os filhos de Deus e não ser um deles
A história de Ananias e Safira nos ensina que a presença física entre os filhos de Deus não garante a autenticidade da fé nem a entrada no Reino de Deus. Eles participavam das mesmas atividades que os demais crentes, mas suas ações revelaram uma desconexão com os valores fundamentais do evangelho que regem a vida dos salvos.
Ananias e Safira, ao mentirem sobre o valor da venda de sua propriedade, demonstraram que suas ações eram motivadas por interesses egoístas e não por um compromisso genuíno com Cristo. Essa atitude contradiz o ensinamento de Jesus em Mateus 6:24, que afirma que não podemos servir a Deus e ao dinheiro.
Este episódio serve como um aviso solene de que não basta estar na igreja para ser salvo; é necessário ser regenerado, e, como consequência do novo nascimento, viver de acordo com o evangelho e ser motivado por um compromisso autêntico com Cristo. Lembremo-nos de que Deus vê além das aparências externas e conhece os segredos de nossos corações (1 Samuel 16:7; Salmos 44:20,21; Provérbios 21:2; João 2:24,25).
2. É possível que muitas “boas intenções” e “boas ações” sejam atos de autopromoção
A Bíblia menciona “um certo homem chamado Simão” que, anteriormente, enganava o povo de Samaria com suas artes mágicas. Este, ao perceber que muitos criam na pregação de Filipe, infiltrou-se entre os crentes e também foi batizado. Ao observar os sinais e maravilhas realizados pelos apóstolos, e que, pela imposição de suas mãos, aqueles que entregavam suas vidas a Jesus recebiam o Espírito Santo, “lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo” (Atos 8:9-24). Observem que ele estava entre os crentes mas não era um verdadeiro filho de Deus, e agia com intenções desonestas e em busca de poder.
Ananias e Safira pareciam realizar uma boa ação ao vender sua propriedade e doar o dinheiro para a igreja ajudar os pobres. No entanto, eles retiveram parte do valor para si mesmos, enquanto fingiam doar a quantia total. Suas “boas ações” eram, na verdade, apenas uma forma de autopromoção.
Este ato de desonestidade, uma tentativa de imitar outros que agiam com o coração puro, não passou despercebido. Deus conhecia seus corações. Pedro, cheio do Espírito Santo, discerniu a verdade e os confrontou sobre sua mentira. Como resultado, ambos morreram instantaneamente, servindo como um claro aviso para aqueles que vivem uma encenação da vida cristã sobre a seriedade desse pecado (Atos 5:5, 10).
Ananias e Safira nos fazem lembrar a hipocrisia dos religiosos e a recomendação de Jesus aos seus ouvintes para que não dessem esmolas, orassem ou fizessem qualquer outra coisa para serem vistos e elogiados pelos homens (Mateus 6:1-6). Esses atos eram para chamar a atenção e não de verdadeiro serviço a Deus.
Que nossas boas ações sejam motivadas, não pelo anseio de autopromoção, mas pelo amor genuíno e pelo desejo de glorificar a Deus.
3. O contraste entre piedade e aparência de piedade
O apóstolo Paulo, ao abordar um comportamento que tem se tornado cada vez mais comum nos últimos tempos, menciona os “amantes de si mesmos”. Ele se refere àqueles que, mesmo estando no meio das igrejas, produzem frutos carnais em vez de espirituais. São pessoas que, embora apresentem uma aparência de piedade, vivem de maneira indigna do evangelho (2 Timóteo 3:5). Eles estão entre nós, em número cada vez maior. Talvez jamais tenhamos tido ao longo da história tantos incrédulos travestidos de crentes entre os filhos de Deus. Eles são comparáveis à azeitona-do-ceilão (Elaeocarpus serratus), uma árvore de porte médio, pertencente à família Elaeocarpaceae, originária do Sri Lanka, antigo Ceilão. Embora seu fruto, também conhecido como falsa-azeitona ou azeitona-ornamental, possua uma aparência similar à azeitona comum, a azeitona-do-ceilão tem um sabor adstringente, que provoca uma sensação de secura na boca.
Ananias e Safira, ao mentirem para reter parte do dinheiro da venda de sua propriedade, estavam, na verdade, praticando um tipo de idolatria: o interesse deles estava mais em manter e elevar a própria reputação do que em cultuar a Deus e servir aos irmãos.
Este episódio nos oferece uma reflexão profunda sobre a diferença entre a verdadeira piedade e a mera aparência de piedade; entre ser verdadeiramente salvo e apenas estar entre eles tentando imitar sua conduta.
A verdadeira piedade, exemplificada pelos apóstolos e pelos primeiros cristãos, envolve a entrega total a Deus e aos irmãos na fé, sem reservas ou segundas intenções (Atos 4:32-35). No entanto, Ananias e Safira apenas encenavam a piedade. Na verdade, eles desejavam o reconhecimento e a admiração dos outros e não se sacrificar pela causa de Cristo. Por isso, mentiram.
Este ato de hipocrisia foi severamente punido, servindo como um aviso para todos nós. Como está escrito: “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido” (Lucas 12:2). Portanto, devemos buscar um relacionamento genuíno com Cristo, como filhos de Deus, e não um cristianismo representativo.
4. É possível que muitos que caminham juntos, estejam indo para destinos diferentes
Um exemplo hipotético que ilustra essa afirmação pode ser encontrado em muitas situações reais. Imagine um casal, Pedro e Amélia. Amélia cresceu em um lar cristão e se converteu aos 17 anos. Aos 21 anos, ela conheceu Pedro e, durante o relacionamento, ele fez sua pública profissão de fé e foi batizado, tornando-se também membro da igreja. Eles se casaram quando Amélia tinha 23 anos e Pedro, 27. Passaram toda a vida na igreja, ocupando cargos e trabalhando em diversas áreas, como qualquer outro crente comprometido. Aos 52 anos, Amélia morreu de câncer, tendo glorificado a Deus com seu testemunho em sua doença. Depois de alguns meses, Pedro deixou a igreja e viveu como um incrédulo até o final de sua vida. Aqui encontramos o sentido do ensino de Jesus: “Estando dois no campo, um será levado e o outro deixado; estando duas moendo no moinho, uma será levada e a outra deixada” (Mateus 24:40,41). Podemos ampliar as ilustrações de Jesus para “estando dois vivendo sob o mesmo teto, um será levado e o outro deixado”, porque um é convertido e o outro não. Podemos estender ainda mais essa ilustração para o contexto das igrejas locais, pois também entre aqueles que congregam, alguns serão levados e outros deixados.
Há muitos que, mesmo fazendo parte da congregação local, seguem, espiritualmente, um caminho para a eternidade diferente do caminho dos verdadeiros filhos de Deus. Seu destino final não é a vida eterna com Cristo, mas a separação definitiva de Deus, a que chamamos de “segunda morte” ou “morte eterna”: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mateus 25:46).
Conclusão
A história de Ananias e Safira nos lembra que Deus vê o coração. Ele conhece as nossas verdadeiras intenções e não se deixa enganar por aparências externas de piedade. Os salvos e os que andam com eles serão separados um dia. Deus permite essa caminhada para que, na hora certa, cada um mostre a sua verdadeira natureza. Há uma frase de autoria desconhecida que diz: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Eu acrescentaria que podemos enganar até a nós mesmos, mas ninguém poderá, jamais, enganar a Deus.
Que cada um examine a sua própria fé e motivações à luz dos ensinamentos da Bíblia. Que ninguém, entre nós, seja apenas alguém que se tenha “adaptado ao evangelho”, mas que sejamos todos verdadeiros filhos de Deus; que nenhum seja como o joio entre o trigo, pois na ocasião certa, o joio será arrancado e queimado no fogo (Mateus 13:40). Pense nisso!
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