Ser discípulo não é ter encontros ou momentos com o Senhor Jesus, mas é andar com ele, viver nele e para ele para que em tudo ele seja glorificado
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“E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai. Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos.” (Mateus 8:21,22)
A expressão “e outro de seus discípulos” pode indicar alguém não estranho, talvez um discípulo sem firmeza, inconstante, casual, que tenha andado com Jesus por algum tempo sem, todavia, ter assumido com ele um compromisso real.
Entre o povo de Deus há muita gente oscilante, que diz seguir a Jesus, porém sem perseverança na carreira da fé. São pessoas que se contentam com uma vida medíocre, e permanecem a certa distância do Senhor. Sobre sua relação com a igreja, como dizia um saudoso amigo, “fazem pro gasto”. Pensam que indo aos cultos de vez em quando, especialmente aos domingos a noite, que entregando uma oferta, ou que tendo praticado alguma caridade isso já basta. Com este comportamento eles revelam a prática de um falso cristianismo, não centrado em Cristo, que não coloca o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar (Mateus 6:33), mas que prioriza interesses humanos — um cristianismo antropocêntrico e egoísta. Na prática funciona assim: “Primeiro eu. A minha vida com Cristo, levo como puder.”
Sobre a frase “permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai”, há duas possibilidades que devemos considerar: A primeira é que aquele homem quisesse ficar em casa até seu pai falecer, o que significava adiar indefinidamente o compromisso de seguir o Mestre. Entre os judeus a obrigação com os pais idosos perdurava até seu falecimento, e se eles estivessem doentes e prestes a falecer o filho era isento de qualquer outra responsabilidade. Sepultar o pai era um dever considerado sagrado. A segunda hipótese é que seu pai tinha falecido, ou estando doente e na iminência de morrer, ele precisasse dar atenção à família e cuidar do funeral. É provável que a resposta dada tenha relação com a primeira situação, o que é aceito pela maioria dos intérpretes, e que suas palavras tenham este sentido: “Eu quero seguir-te, mas não posso enquanto meu pai viver”. Isso talvez revele desinteresse por um relacionamento mais próximo com o Salvador. Se assim for, cuidar do pai era uma ótima desculpa.
A resposta do Senhor, “deixa os mortos sepultar os seus mortos” (v.22), não trata de um ensino contrário ao cuidado com a família. Ao contrário, a Bíblia nos diz que “se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel” (1 Timóteo 5:8). Assim sendo, podemos compreender que Jesus orientou ao homem colocar em ordem suas prioridades, salientando que nenhuma coisa, ou responsabilidade, deveria impedi-lo do principal. Este entendimento parece estar em harmonia com Lucas 14:26: “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” O verbo traduzido por “aborrecer” ou “odiar” trata de uma “escolha moral, elevando um valor sobre o outro”1; é colocar em segundo plano diante de algo prioritário, indicando que nem as relações familiares, nem a própria vida devem estar acima de nosso relacionamento com Cristo. E não nos esqueçamos da promessa que diz: “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mateus 19:29).
Em nossa cultura, o esperar para sepultar o pai pode ter muitos correspondentes: os estudos, o emprego, a administração de algum negócio, amigos, família, sonhos, hobbies etc. Seja o que for, qualquer coisa que alguém coloque acima do compromisso com Deus torna-se o seu deus. Certamente esta é a razão de muitos crentes inconstantes e/ou casuais — embaraçados com suas prioridades não podem andar com o Mestre.
Ser discípulo não é ter encontros ou momentos com o Senhor Jesus, mas é andar com ele, viver nele e para ele para que em tudo ele seja glorificado. Isso requer que ele seja a nossa prioridade. Pense nisso!
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