O aborto é uma violência praticada contra um ser em formação, incapaz e indefeso. É prática pecaminosa, e sua defesa atenta contra a vida e o próprio Criador
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A Bispa Elizabeth Eaton, líder da Igreja Luterana dos EUA, divulgou uma carta em que defende o aborto e se posiciona contra a possível anulação do direito a interrupção da gravidez pela Suprema Corte Americana. A declaração ocorreu após o vazamento de documentos que indicam que a Corte, de tendência conservadora, deve decidir sobre um caso que pode derrubar uma decisão judicial de 1973, a “Lei Roe vs. Wade”, que legalizou o aborto nos Estados Unidos. A divulgação desses documentos provocou uma série de manifestações pró-aborto, inclusive de evangélicos progressistas.
Em mensagem pastoral na terça-feira, 17 de maio, no site da denominação, a bispa afirmou que “qualquer pessoa que engravidou inesperadamente tem arbítrio moral para discernir o que fazer”. Ainda citou que a declaração social da igreja, de 1991, afirma que o aborto deve ser legal, regulamentado e acessível. Segundo ela, “essa decisão não apenas causaria graves danos a muitas pessoas com gestações inesperadas, mas também poderia criar outros problemas. Provavelmente colocará em risco ou causará a morte de pessoas que precisam de um aborto”. Ainda acrescentou que “as bases legais estabelecidas por qualquer decisão desse tipo ameaçam o acesso das pessoas ao controle de natalidade, casamento entre pessoas do mesmo sexo, direitos de voto e seu direito à privacidade”.
O diálogo sobre o aborto e outros temas considerados sensíveis desnuda o relativismo moral dos chamados evangélicos progressistas. A fé e prática progressista não se fundamenta nas Escrituras, mas varia conforme as condições de tempo, contexto e interesses. Não é sem motivo que, adotando uma postura crítica e revisionista da fé cristã tradicional, reinterpretam as Escrituras e ressignificam textos com o objetivo de respaldar seus ensinos e práticas divorciados do verdadeiro evangelho.
A recente declaração do pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de que “aqui no Brasil não faz (aborto) porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública, e todo mundo ter direito e não ter vergonha” resultou em várias manifestações nas redes sociais. Enquanto conservadores criticaram o ex-presidiário, progressistas saíram em sua defesa. O pastor Zé Barbosa Júnior, por exemplo, ao comentar a fala de Lula, afirmou: “Descriminalizar o aborto não significa, nem de longe, incentivar o ato, mas garantir às mulheres que, por circunstâncias das mais diversas, pensam em realizá-lo, o DIREITO de serem acompanhadas pelo Estado.”1
No Brasil várias autoridades religiosas defendem o direito à interrupção da gravidez. Lusmarina Campos Garcia, pastora luterana, participou em Brasília, em 2018, de audiência pública promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em que defendeu a descriminalização do aborto, representando o ISER (Instituto de Estudos da Religião).2 Em nota a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), assim se manifestou: “Diante da polêmica levantada em torno da participação da Pa. Lusmarina em referida audiência, é importante que fique claro que a Presidência da IECLB não foi consultada, informada, nem mesmo contatada pela referida Pastora acerca de sua participação nesta audiência pública. Ela não estava lá em nome da IECLB e nem falou em nome da IECLB. Portanto, o que falou representa seu posicionamento e não o posicionamento da Igreja sobre este tema. Pa. Lusmarina é Pastora licenciada da IECLB, afastada (a seu pedido) para estudos de pós-graduação.”3 Na mesma ocasião o diretor e professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo (FTBSP), pastor Lourenço Stelio Rega, representando a Convenção Batista Brasileira, defendeu a vida4 (veja sua exposição no final da matéria).
O pastor Henrique Vieira argumenta que “Legalizar (o aborto) significa tratar pelo viés da saúde, da assistência, da escuta, do acolhimento, do respeito. Legalizar não significa incentivar a prática, mas desenvolver uma política de respeito e cuidado”5.
Há no Facebook uma página intitulada “Frente Evangélica pela Legalização do Aborto”. Em postagem fixada lemos: “Compreendemos a criminalização como um atentado aos direitos humanos, que, além de não dar conta de impedir que os abortos sejam realizados, impõe ainda, sobre as mulheres, dor, violência e morte.”6
O argumento de que descriminalizar o aborto não é incentivá-lo, e que a descriminalização contribuiria para a diminuição da prática é deslocado da realidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 1970, portanto antes do caso Roe Vs. Wade, foram contabilizados 190 mil abortos. Já em 1973 foram mais de 615 mil.7
O aborto tem sido uma das principais causas de morte em todo o mundo. Em 2019, o Portal ES Brasil publicou artigo com o seguinte título: “Em 2019 aborto supera causas de morte com 42 milhões”8. Naquele ano, de acordo com o serviço de rastreamento Worldeters, os dados constataram que a prática foi a maior causa de morte em todo o planeta. No momento em que escrevo, 26 de maio de 2022, o número total de mortes no mundo passa de 23 milhões, enquanto o de abortos já soma mais de 17 milhões.9
A afirmação politicamente correta de que “todas as vidas importam” não contempla a vida dos nascituros — é excludente!
Enquanto a Bíblia declara que “os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão” (Salmos 127:3), alguns, sem o temor de Deus, pensam neles como um fardo, um atrapalho ou até mesmo como maldição. Enquanto isso a adoção de animais cresce, e em muitos países o número de pets nas famílias já ultrapassa o número de crianças. Não é sem motivo que o Papa Francisco tenha declarado recentemente: “Hoje vemos uma forma de egoísmo. Vemos que alguns não querem ter filhos. Às vezes têm um, mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar”. Ele ainda afirmou que “a negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, a civilização envelhece”.10 A inversão de valores é tamanha que Isabela Freitas, escritora mineira, causou polêmicas ao publicar nas redes sociais em 2020 que “não existe mãe de pet”, e que “ser mãe é muito mais do que você faz pelo seu bichinho”.11
Queria tecer um comentário sem ofender as mães de pet que se consideram mães, mas não sei se sou capaz. Mãe de pet, eu já fui mãe de pet, hoje sou mãe é um menininho lindo, e posso dizer... Não existe mãe de pet. Ser mãe é muito mais do que você faz pelo seu bichinho.
— Isabela Freitas (@IsabelaaFreitas) May 10, 2020
Jó se referiu a Deus como “Aquele que me formou no ventre” (Jó 31:15). Davi nos mostra o cuidado de Deus para com ele mesmo antes do seu nascimento: “Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente” (Salmos 71:6). Já no Salmo 139 o salmista declara: “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia” (Salmos 139:14-16).
Considerando que “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1 Samuel 2:6), o aborto não é apenas uma violência contra um ser em formação, incapaz e indefeso, mas contra o próprio Criador. Em suma, o aborto é pecado e sua defesa atenta contra a vida e o próprio Deus.
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