A Palavra: agosto 2021

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Vamos brincar de igreja?

Cuidado com aqueles que “tendo aparência de piedade”, na prática negam o evangelho, porque são “inimigos da cruz de Cristo”


Pr. Cleber Montes Moreira

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” (Filipenses 3:18,19)

 

— Vamos brincar de igreja? — Pedrinho propôs a Gustavo.

— Sim, vamos!

Então os dois reuniram algumas miniaturas de personagens de várias brincadeiras e arrumaram as peças sobre o tapete do quarto, formando o que entendiam ser um auditório. Emborcaram uma caixa para servir de púlpito, sobre a qual colocaram um homenzinho. Até uma bateria e um violão de brinquedo usaram para compor o cenário de um templo religioso. Ajeitaram tudo conforme sua imaginação infantil.

— Eu serei o pastor. E você?

— Serei o ministro de música! — Gustavo respondeu animado.

— O que devo pregar?

— Sei lá. Pregue o que as pessoas gostam de ouvir.

— Então podemos pedir dinheiro, como aquele apóstolo da TV. Que acha?

— Mas isso não é o que as pessoas gostam, é o que você queria que elas te dessem.

— É… então vamos dizer que curamos suas doenças, que oferecemos ajuda para resolver seus problemas. Depois disso a gente pede dinheiro, que é para manter o Ministério.

— Certo. Boa ideia.

— E você, vai cantar? Você é o ministro de música, tem de cantar.

— A gente pode cantar algumas músicas do CD que a mamãe estava ouvindo ontem. Como é mesmo aquela que fala do mel?

— Sabor de Mel, você não lembra?!

— Ah, é isso! Você consegue cantar um pedacinho? É para eu lembrar…

— “Tem sabor de mel, tem sabor de mel. A minha vitória…” Não lembro mais. Melhor cantar outra.

— Como é aquela que diz “Deus já preparou um pódio para sua vitória… A vitória chegou, a vitória chegou”?

— Não sei. Melhor cantar uma música de criança.

— Podemos cantar aquela daquele vídeo no YouTube: “Atirei o Pau no Gato”.

— Mas essa não é de crente.

— É sim. Eles cantaram no culto.

— É mesmo?!

— Sim! Foi numa igreja lá em Belo Horizonte.

— Está bem. A gente canta essa mesma. Ela é fácil.

Enquanto Pedrinho e Gustavo brincavam no quarto, na sala o pai assistia à televisão. O programa sensacionalista mostrava imagens flagradas de um helicóptero em um heliponto de um megatemplo em São Paulo sendo abastecido com malas cheias de dinheiro doado por fiéis.

Embora o diálogo aqui apresentado seja fictício, o caso do helicóptero (e o da música “Atirei o Pau no Gato”) é verídico. Há muita gente brincando de igreja, de ser pastor, de ser apóstolo, de ser adorador, de ser crente… Gente que aprende a imitar a tonalidade de voz de certos pregadores famosos, que aluga espaços pequenos nos bairros, ou mesmo grandes salões, que se envereda pelo mundo da música gospel, e das mazelas…

Recordo de uma declaração dada por uma pessoa no Facebook: “Meu sonho é ser uma cantora gospel famosa. Eu sei que vou conseguir. Deus vai me dar a vitória!” Observem que o ideal da pessoa é alcançar fama, não é servir a Deus. Essas ambições florescem regadas ao som de mensagens e canções triunfalistas que exaltam o homem:

Acredite, é hora de vencer
Essa força vem
De dentro de você
Você pode
Até tocar o céu se crer (…)
Nossos sonhos
A gente é quem constrói (…)
 Tantos recordes
Você pode quebrar
As barreiras
Você pode ultrapassar
E vencer (…)
Deus dá asas, faz teu voo (…)

 

Veja o que diz outra canção:

Tudo que ligarmos aqui
Lá no céu ligado será.
Deus, eu ligo aqui agora
Minha casa, minha empresa,
A fartura em minha mesa,
Meu carro importado,
Casamento abençoado,
Só pra Te glorificar.

 

O mercado religioso é muito atraente. Nele há excelentes artigos de consumo, propícios à venda e lucrativos: músicas, palestras, cursos e treinamentos diversos, amuletos e um sem número de objetos, orações, correntes, “trabalhos” para trazer o amor de volta, para arranjar emprego, exorcismos, curas e todo tipo de serviço que alguém possa querer da parte de Deus. Certamente, os espertos, que gostam de brincar de igreja, sempre têm uma solução para o cliente. Se não tiverem, inventam; e criatividade é o que não falta. Pode ser um portal por onde o fiel possa passar, simbolizando a abertura de portas de emprego e outras oportunidades. Pode ser uma capa para dar proteção. Pode ser um manto. Pode ser um anel simbolizando alguma aliança com Deus. Pode até mesmo ser um “contrato” com Deus assinado pelo próprio Jesus Cristo. Que tal tocar num manto consagrado em Israel, na “arca da aliança”, ou na camisa suja de sangue de um certo apóstolo? Que tal um lencinho com o suor curativo? Há também rosas, águas e até vassouras ungidas, cada produto para um propósito específico. Você também pode comprar um “terreno” no céu e receber uma escritura simbólica.

Neste mercado lucrativo, muitos brigam por um lugar ao sol. Já viu a variedade de nomes de igrejas que estão por aí, e outras que vão surgindo? Quem não quer trabalhar como sócio, acaba abrindo o próprio negócio.

O tema é “conversa pra mais de metro”, é inesgotável a tal criatividade dos falsários da Palavra. Há sempre uma ideia nova. O circo não pode parar, a brincadeira tem de continuar: a roda da economia da “gospelândia” precisa girar!

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

É verdade que “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”?

Nossos atos, incluindo nossos pecados, testemunham sobre nós, sobre quem somos e qual é nossa condição diante de Deus. Não dá pra dissociar o que somos de nossas convicções e práticas

 

Pr. Cleber Montes Moreira

“O Senhor prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma.” (Salmos 11:5)


“Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”. Certamente você já ouviu esta frase, ou a leu num livro, revista, ou em algum site ou postagem nas redes sociais. “Há algo errado com esta afirmação?” — você, talvez, pergunte. Não. De fato Deus ama o pecador; ama “de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). O seu amor é prático, sacrificial, comprovado na cruz. Aliás, não há amor maior que este (João 15:13), amor que leva um justo, Jesus Cristo, a morrer em lugar de pecadores (Romanos 5:7,8). Também é verdade que Deus odeia o pecado. “Mas, então, qual é o problema com a frase?” Eu respondo: Você lembra porque o primeiro casal foi expulso do Jardim do Éden? Lembra porque o homem se escondeu de Deus e sentiu vergonha de Sua presença? Lembra porque a fadiga, dores, sofrimentos e a morte passaram a fazer parte da realidade humana? Lembra porque a terra produz cardos e espinhos?1 Você sabe porque Deus enviou um dilúvio e destruiu a todos, poupando apenas a família de Noé?2 Sabe porque Deus varreu as cidades de Sodoma e Gomorra com o furor de sua ira?3 A resposta é uma só: Por causa do PE-CA-DO! Deus declara em Sua Palavra que “a alma que pecar, essa morrerá”, que “o salário do pecado é a morte”, e que os pecadores — os que não se arrependerem, que não passarem pelo novo nascimento — ficarão de fora da Cidade Santa, na eternidade, o que consiste na separação eterna de Deus, condição esta que a Bíblia chama de “segunda morte” (Ezequiel 18:4; Romanos 6:23; Apocalipse 21:8; 22:15).

O problema não está exatamente na frase, mas nos modos e intenções de seu uso. Embora ela seja verdadeira no que declara sobre amor de Deus pelo pecador, e seu ódio pelo pecado, ela tem sido proferida, muitas vezes, e mesmo que inconscientemente, como propaganda da Doutrina Universalista e da Teologia Inclusiva. A primeira entende que Deus ama tanto o pecador que, no final, salvará a todos, a despeito de qualquer coisa, e a segunda compreende o “amor” como doutrina única, não havendo, da parte de Deus, nenhuma outra exigência para que o homem seja salvo. É uma forma de atenuar a ira divina, o seu perfeito juízo e a condenação eterna dos pecadores; de invalidar a cruz e proclamar um “evangelho” que cria uma atmosfera favorável ao homem obstinado no erro, que recusa a obra do Espírito Santo em sua vida, sugerindo que a pessoa pode viver como quiser, na prática do pecado, seja ele qual for, e mesmo assim estar em paz com Deus. Os pregadores universalistas e inclusivos negam que “os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus”, omitindo a verdade e cooperando com o diabo para alargar o caminho da perdição (Salmos 9:17 — veja Mateus 25.31-46).

O Universalismo anuncia que um Deus bom, amorável, jamais enviaria pessoas para o inferno. Aliás, “o inferno não existe” — ensinam eles. A Teologia Inclusiva, por sua vez, conclui que para alguém ser salvo basta “praticar o amor”. Parece-me que afirmar que “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador” satisfaz as duas escolas, e deixa o perdido bem confortável enquanto, iludido, caminha para a eternidade sem Cristo.

Nossos atos, incluindo nossos pecados, testemunham sobre nós, sobre quem somos e qual é nossa condição diante de Deus. Daí João Batista exortar aos fariseus e saduceus, hipócritas: “produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:8).

Não dá pra dissociar o que somos de nossas convicções e práticas: um é o andar do salvo, outro é o andar do perdido, e cada um frutifica segundo sua natureza (Gálatas 5:19-25); não dá pra separar o ato pecaminoso daquele que o pratica, de modo que ninguém pode viver como quer e escapar das consequências do pecado, mesmo que praticando alguma religião.

Lembre-se que Deus “ao culpado não tem por inocente”, que “os ímpios não subsistirão no juízo”, que “os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos”, e que “não entrará nela (na Cidade Santa4) coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Salmos 1:5; Isaías 1:28; Êxodo 34:7; Apocalipse 21:27). Tenha em mente que Deus não condena o pecador por ódio ou vingança, mas porque Ele é santo e justo, e que seu amor não é sinônimo de complacência; Ele não dá licença para pecar. Pense nisso!


1 Gênesis 3

2 Gênesis 6-7

3 Gênesis 13:13; Gênesis 19:24,25; 2 Pedro 2:6; Lucas 17:26-30

4 Apocalipse 21:27, adendo explicativo

domingo, 1 de agosto de 2021

Triste ou Feliz?

“O mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes.” (Alexandre Dumas)


Pr. Cleber Montes Moreira

“O que despreza ao seu próximo peca, mas o que se compadece dos humildes é bem-aventurado.” (Provérbios 14:21)

Meu filho Jônatas, quando com pouco mais de dois anos, como a maioria das crianças, conseguia perceber coisas que nós adultos nem sempre percebemos. Ele sabia bem quando as pessoas mais próximas mudavam de humor. Daí ele perguntava: “Você está triste?”; ou “Você está feliz?” Se cometia alguma pequena travessura e sabia, pelo meu semblante, que havia desagradado, perguntava: “Você está triste?”. Se fazia algo que agradava, a pergunta era: “Você está feliz?”. Lembro-me que certo dia minha esposa chegou da escola em que leciona cansada, sentindo-se mal, deitou-se e ele, aproximando-se calmamente, fez a pergunta: “Mamãe, você está triste?”

Quanta diferença faria se as pessoas perguntassem umas às outras mais vezes: “Você está triste?”, ou “Você está feliz?”. Certamente que tal preocupação seria recebida como uma demonstração de afeto.

Triste ou feliz? Você se importa? Se realmente amamos, precisamos perguntar sempre! Alexandre Dumas afirmou: “O mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes.”

Ele tomou nosso lugar

Sob falsa acusação, um homem inocente foi preso, humilhado, condenado e morto em lugar dos verdadeiros culpados…


Pr. Cleber Montes Moreira

“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito.” (1 Pedro 3:18)

Uma acusação injusta levou Lawrence McKinney a passar 31 anos preso por um crime que não cometeu. Em 1978, Lawrence tinha 22 anos e foi condenado a 110 anos de prisão pelo Tribunal de Justiça da cidade de Shelby, no Tennesse, acusado de estupro. Décadas depois, o outro homem que havia sido condenado juntamente com Lawrence, procurou a organização The Innocence Project, que se dedica a revisar casos de presos condenados injustamente, e corroborou as alegações de Lawrence de que ele era inocente. Com a análise de DNA colhido nas provas do crime, foi comprovada a inocência do homem que havia sido privado da liberdade durante mais de três décadas, e ele foi solto.

Notícias de pessoas presas e até condenadas injustamente, surgem com certa frequência na mídia; gente que sofre por um crime que não cometeu, enquanto o verdadeiro culpado, na maioria das vezes, está solto.

Há mais de dois mil anos, sob falsa acusação (Marcos 14:57), Jesus foi preso, humilhado, condenado e morto numa cruz. Ele foi levado à pena capital, injustamente, em lugar de quem é, verdadeiramente, culpado: eu e você! Sim, aquela cruz era nossa e não de Cristo. Mas, por amor, Ele tomou nosso lugar. Por sua morte, nossa culpa foi perdoada e, embora pecadores, fomos, pelo seu sangue, justificados diante de Deus. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus…” (Romanos 8:1).

Livros teológicos?

livros teológicos