A Palavra: fevereiro 2021

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A escola de Justino

 Quase tudo que Justino sabia sobre Deus, ele aprendera na EBD. As lições recebidas na “maior escola do mundo” cooperaram para forjar seu caráter, formar seus valores, e prepará-lo para a vida

Bíblia
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Pr. Cleber Montes Moreira

“Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti […]. E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.” (2 Timóteo 1:5; 3:15)

Justino, órfão de pai, criado pela mãe e a avó materna, nunca teve vida fácil. Passou escassez de quase tudo, teve de trabalhar cedo para ajudar nas despesas da casa, não pôde frequentar a escola, e o pouco que aprendeu a ler foi com uma vizinha professora, a quem chamava de tia. Por muito tempo o único livro da casa, a velha Bíblia, e algumas revistas recebidas na igreja foram-lhe bastante úteis para treinar a leitura. Era inteligente, autodidata. Na década de 1970 cooperou na organização de uma igreja no bairro onde morava. Sempre operante, dirigia cultos, pregava, ensinava classes bíblicas e gostava de evangelizar. Desenvolto, hábil no ensino da Palavra de Deus, certa feita alguém lhe inquiriu sobre a escola em que havia estudado, ao que respondeu: “Na Escola Bíblica Dominical.” Sim, ele desenvolveu sua habilidade na leitura desde criança, a partir das revistas da EBD da antiga igreja. Assim como Lóide e Eunice, que instruíram Timóteo na fé, Justino também aprendeu com o testemunho da avó e da mãe, mulheres sábias, que despertaram nele, desde a infância, o interesse pela classe dominical.

Quase tudo que Justino sabia sobre Deus, ele aprendera na EBD. As lições recebidas na “maior escola do mundo” cooperaram para forjar seu caráter, formar seus valores, e prepará-lo para a vida. Mesmo sem formação secular, alcançou sabedoria. Seu testemunho era impactante e persuasivo. Agora era ele quem conduzia seus três filhos no bom caminho.

Creio que se agirmos como Lóide e Eunice, e como a avó e a mãe de Justino, se ensinarmos aos pequeninos as sagradas Escrituras, que podem fazê-los sábios para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus, tais ensinos frutificarão em suas vidas e Deus fará neles a Sua Obra.

A escola de Justino pode ser também a escola de sua família. Pense nisso!

A Escola Bíblica Dominical como instrumento para alcançar as futuras gerações

Se cada geração entender a importância do discipulado, e alcançar e capacitar a próxima para que faça o mesmo, a Palavra de Deus seguirá salvando, santificando, edificando, e aperfeiçoando os salvos de hoje e de amanhã para a Boa Obra

Estudo Bíblico
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Pr. Cleber Montes Moreira

“E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” (Deuteronômio 6:6 — grifo do autor)

A maior demonstração de amor e fidelidade a Deus é acolher a Sua Palavra, praticá-la e transmiti-la às futuras gerações. Por isso ela deve estar guardada no coração (Salmos 119:11), inundar nossos pensamentos, transbordar em nossas ações, ser declarada por nossos lábios (Lucas 6:45), ensinada aos filhos em casa, andando pelo caminho, antes de dormir e ao acordar (v. 7). Ela deve estar sempre diante de nossos olhos, para que seja memorizada, compreendida, aplicada, e opere eficazmente em nós e nossas famílias (vs. 7,8). Para Israel ser bem-aventurado em sua terra, deveria observar isso. Também nós, se quisermos agradar a Deus, alcançar os nossos e transmitirmos valores eternos aos filhos, e por meio deles fazermos chegar a Palavra aos nossos netos, bisnetos e assim por diante. Se cada geração entender a importância do discipulado, e alcançar e capacitar a nova geração para que faça o mesmo, a Palavra de Deus seguirá salvando, santificando, edificando, e aperfeiçoando os salvos de hoje e de amanhã para a Boa Obra. Porém, aquela geração que romper com este clico colherá resultados nefastos.

Um dos recursos que temos à disposição, que nos ajuda a cumprir o que nos pede o texto bíblico, é a Escola Bíblica Dominical. Ela não é apenas uma atividade, ou departamento da igreja, mas um instrumento poderoso de ensino e transformação de vidas. Muitos que hoje servem a Cristo, aprenderam os princípios fundamentais da fé cristã desde pequenos, na EBD. A Bíblia diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele” (Provérbios 22:6). Eu creio nisso. E você?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Vencendo a ansiedade por meio da oração

A prática constante da oração nos faz confiar no agir de Deus, e esta confiança é a cura para o mal da ansiedade


“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.” (Filipenses 4:6)

Pr. Cleber Montes Moreira

Como filhos de Deus temos um recurso eficaz contra a ansiedade, a oração. A sua prática constante nos fortalece para lidarmos com as aflições na confiança de que o Eterno está no controle, e que Ele pode, se for de sua agradável vontade, alterar o cenário desfavorável ou nos capacitar para lidarmos com as circunstâncias de modo que seu nome seja glorificado. A disciplina da oração nos faz entender e aceitar os desígnios de Deus para nós, e nos torna gratos pelo entendimento de que“todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28), inclusive tudo que nos aflige.

O ensino bíblico é para levarmos ao Pai, em oração, tudo que nos inquieta, seja algum medo, alguma culpa, algum sentimento indevido, alguma necessidade, alguma enfermidade, alguma preocupação… cada um terá o que apresentar em suas petições. O resultado é que a paz que excede todo o entendimento tranquilizará nossos corações e aquietará nossos pensamentos.

Quanto mais tempo passamos em oração, maior é nossa confiança no agir de Deus, e esta confiança é a cura eficaz para o mal da ansiedade. Pense nisso!

 O Grande Amigo

(Hino 155 do Cantor Cristão)

Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão,
E nos manda que levemos, tudo a Deus em oração.
Oh que paz perdemos sempre, ó que dor no coração,
Só porque nós não levamos tudo a Deus em oração!

Temos lidas e pesares, e na vida tentação,
Não ficamos sem conforto, indo a Cristo em oração.
Haverá um outro amigo de tão grande compaixão,
Os contritos Jesus Cristo, sempre atende em oração!

E se nós desfalecemos, Cristo estende nos a mão,
Pois é sempre a nossa força e refúgio em oração.
Se este mundo nos despreza, Cristo é nosso em oração,
Em Seus braços nos acolhe, e nos dá consolação!

Charles Crozat Converse (1832-1918)
Joseph Scriven (1820-1886)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Portanto, não temeremos…

Quando a terra se abalar, quando o seu chão desabar, em quem você buscará socorro?

tsunami
Imagem: Pixabay
Pr. Cleber Montes Moreira

“Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza.” (Salmos 46:2,3)

Em 1755, um terremoto seguido de um tsunami devastou Lisboa, causando a morte de cerca de 100 mil pessoas. No dia 26 de dezembro de 2004, um terremoto de 9.2 graus na Escala Richter provocou uma série de tsunamis que devastaram países banhados pelo Oceano Índico, principalmente a Indonésia, provocando mais de 230 mil mortes e deixando cerca de 40 mil desaparecidos. O terremoto no Haiti, em 2010, matou mais de 250 mil pessoas. O ciclone da Índia, em 1970, foi o pior registrado na história, causando, segundo estimativas, 500 mil mortes. O maior desastre natural ocorreu em 1931, na China, com a inundação do rio Huang He (Amarelo), durante os meses de julho e novembro, e matou cerca de 4 milhões de pessoas.

A fúria da natureza é impressionante, e atesta a nossa impotência. Quem sou eu diante de um terremoto de grande magnitude, um tsunami, ou um ciclone? Eventos mais brandos têm ceifado vidas. Um sobrevivente de um tsunami na Indonésia, em 2018, narrando sua experiência, disse: “Tentei me segurar em qualquer coisa para sobreviver”. E quando não há nada em que se segurar?

O salmista fala de eventos de grandeza imensurável, verdadeiros cataclismos, para expressar sua dependência e confiança naquele que tem poder para guardá-lo. Ele se sente seguro, “ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza”, ainda que as estruturas do universo sejam afetadas, pois sua confiança está naquele que é “o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmos 46:1).

Na vida, muitos acontecimentos podem ser comparados aos eventos mencionados pelo salmista. É durante as adversidades que demonstramos onde está nossa fé: ou nos apoiamos em nossa própria força, que nada é, ou tentamos nos agarrar em alguma “tábua de salvação”, seja alguma crença, religião, ou outra coisa, ou, então, confiamos em Deus, sabendo que “o Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (vs. 7,11).

Quando a terra se abalar, quando o seu chão desabar, em quem você buscará socorro?

Aqueles que confiam em Deus, somente eles, diante de qualquer situação, podem dizer com segurança: “Portanto, não temeremos…”. Pense nisso.


Quando nos cercar o mal,
Ao rugir o temporal,
Em Jesus é confiar,
Nunca poderá falhar.
(O Segredo do Viver, hino 330 do Cantor Cristão)

2020-06-20


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Minha paisagem favorita

Estamos indo para casa. Não sabemos quando chegaremos, mas a paisagem que pela fé avistamos nos alegra e anima sobremaneira

 

“Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)

Pr. Cleber Montes Moreira

Durante alguns anos a minha paisagem favorita era uma reta na BR 356, próximo ao Posto Caiçara, na chegada de Itaperuna — aquele lugar mexia com minhas emoções, me causava uma alegria incomum, era como se minhas “baterias” fossem recarregadas de modo que nem o cansaço da viagem longa podia me abater. Não importava o horário da chegada, se pela manhã, a tarde ou a noite, o prazer era intenso. Residia longe, não podia viajar com frequência, mas a ligação com minha terra natal era notória; todos me ouviam falar com orgulho da cidade querida. Eu tinha a esperança de um dia poder voltar, e isso aconteceu.

O mundo é para o cristão um lugar estranho. Não é sem motivo que somos chamados “peregrinos”. Nós não nos adaptamos à cultura secular, não nos apegamos às coisas temporais, não vivemos segundo os valores vigentes na sociedade, não nos adaptamos, não colocamos nossa esperança aqui… É que este não é o nosso lugar, “porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hebreus 13:14), “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador”.

É a convicção de que estamos indo para o lar eterno que nos motiva a cada dia. Esta terra é para nós um lugar inóspito, porém, pela esperança que temos, não desfalecemos. Certamente que podemos dizer como Paulo: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos…” (2 Coríntios 4:8,9). Apesar de toda a força contrária, de todo o sofrimento aqui, prosseguimos “para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, na certeza de que Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (vs. 14,21).

Estamos indo rumo ao lar celestial. Não sabemos quando chegaremos, mas a paisagem que avistamos — o que nos revela a Palavra de Deus — nos alegra e anima sobremaneira. Enquanto aqui, falamos com orgulho de nossa Pátria, da qual somos embaixadores, e difundimos seus valores na esperança de que muitos também queiram estar lá.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Olhando para o futuro

Nosso olhar é dirigido por nossos interesses, e os nossos interesses determinam nossas escolhas e nosso agir — o nosso verdadeiro tesouro está lá, para onde olhamos e para onde corremos

“…mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13,14)

Pr. Cleber Montes Moreira

Na pista de corridas, enquanto compete, o atleta deve sempre olhar para frente, em direção à linha de chegada. Olhar para os lados, ou para trás, é perder o foco. Aquilo que deve atrair a nossa atenção não é o que está ao redor, nem o que ficou pelo caminho, mas o que está lá na frente, ainda que, por enquanto, possa estar fora do alcance de nossa visão — numa corrida longa, durante boa parte do percurso não se pode avistar a linha de chegada, mas o competidor sabe que ela está lá.

Paulo comparou a vida cristã com uma corrida. Escrevendo aos coríntios, ele disse: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar” (1 Coríntios 9:24-26). Esta corrida exige preparo e dedicação extrema, numa linguagem atual “força e foco”, porque aquele que tem o céu em vista não pode se deter, não pode se entregar ao desânimo, nem se embaraçar com as coisas terrenas (2 Timóteo 2:4).

Paulo usa o grego “skopos”, que pode ser traduzido por alvo ou meta, que indica um sinal ou marca a ser atingida.1 O alvo do cristão não é a conquista de coisas terrenas, não é uma meta temporal. Embora a vida atual seja desafiadora, e seja natural que estabeleçamos alvos e metas para este tempo, nosso alvo principal é Cristo — somos desafiados a sermos como o Mestre, a atingirmos a estatura do “homem perfeito” (Efésios 4:13) e, neste processo de aperfeiçoamento, cruzaremos a “linha de chegada” no momento de nosso encontro com Ele. Creio que por isso João tenha escrito: “Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1 João 3:2).

O problema do jovem rico era seu foco: seu coração estava no mundo, nas riquezas, e não na eternidade, por isso “retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades” (Mateus 19:22). Nosso olhar é dirigido por nossos interesses, e os nossos interesses determinam nossas escolhas e nosso agir — o nosso verdadeiro tesouro está lá, para onde olhamos e para onde corremos.


1 https://bibliaportugues.com/greek/skopon_4649.htm
Champlin, Russell Norman, O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, Volume V, página 53, Candeia, SP, 1995

Perfil Pastoral

Há processos de sucessão pastoral que nada mais são que processos humanos, porque se baseiam em critérios humanos, e estabelecem para a escolha um perfil de candidato segundo estes critérios e não segundo a Bíblia

Pastor
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“…amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências…” (2 Timóteo 4:3 — ACF)
“…reunirão mestres para si mesmos, de acordo com suas próprias vontades…” (2 Timóteo 4:3 — BKJA)

Pr. Cleber Montes Moreira

Uma igreja em processo de sucessão pastoral decidiu, em assembleia, por sugestão da comissão eleita para tratar do assunto, priorizar a construção do salão de cultos já em andamento para só depois prosseguir na escolha de seu novo obreiro. No entender daqueles irmãos a igreja ficaria muito apertada tendo que “gastar com pastor” e, ao mesmo tempo, tocar a obra. Ocorre que os irmãos ficaram adorando em local improvisado por vários anos, porém, quando resolveram empossar um ministro a obra andou e hoje o templo está pronto.

 A comissão de sucessão pastoral de outra igreja elaborou o perfil ideal para os candidatos. Dentre várias exigências, para concorrer, o interessado deveria ter menos de 40 anos, pelo menos dois cursos de nível superior, uma fonte de renda alternativa e bom relacionamento com a juventude. A partir de então a igreja começou a orar pedindo um pastor que preenchesse tais quesitos.

Outra igreja, ao escolher um dos três candidatos que concorriam ao pastorado, após ouvir a palavra de um membro fundador, votou convidar aquele que residia na cidade, tinha casa própria e emprego. Alegaram que o escolhido ficaria “mais barato” para a igreja.

Dentre tantos outros relatos não posso omitir o caso de uma igreja que estabeleceu como regra só convidar pastor com no mínimo cinco anos de ministério pastoral. Por esta lógica, se todas as igrejas adotassem o mesmo critério, o ministério pastoral seria extinto.

Se por um lado está cada vez mais difícil para as igrejas bíblicas encontrarem pastores comprometidos com a Sã Doutrina, por outro os ministros que ainda levam o pastoreio a sério têm dificuldades para encontrar igrejas que queiram obreiros segundo o perfil estabelecido nas Escrituras.

Há processos de sucessão pastoral que nada mais são que processos humanos, porque se baseiam em critérios humanos, e estabelecem para a escolha um perfil de candidato segundo estes critérios e não segundo a Bíblia. Há igrejas que oram por “um pastor segundo a vontade de Deus” do mesmo modo que um jovem ora por uma namorada, também segundo a vontade de Deus, desde que ela seja bonita, culta, prendada, rica etc., ou desde que seja a “fulana”. Isso me faz lembrar uma piada antiga sobre um jovem que vivia pedindo pra que Deus lhe enviasse uma “varoa”, segundo a Sua vontade, é claro. Conta-se que certo dia aquele rapaz chegou ao templo bem antes do início do culto, e começou a orar dizendo: “Senhor, envie uma varoa para teu servo […]. Mostra-me, eu te peço, qual é a moça que o Senhor tem preparado para ser minha esposa”. Antes de terminar aquela oração ele pediu pra Deus um sinal: “A primeira jovem solteira que entrar aqui hoje, eu saberei que ela é aquela que o Senhor me dará por esposa”. Passados alguns minutos eis que entra uma moça muito feia, e, então, o rapaz olha para o alto e diz: “Senhor, eu não estou brincando!” O problema é que assim como a formosura engana o coração — nem sempre uma mulher bela será uma boa esposa — um pastor escolhido segundo critérios humanos jamais atenderá à igreja em suas reais necessidades; ele talvez exerça seu ministério segundo estes mesmos critérios (pelos quais fora escolhido), e não segundo o Senhor.

Infelizmente as recomendações de Paulo em 1 Timóteo 3:1-7 ou foram esquecidas, ou são consideradas obsoletas para este tempo de “novas” exigências em que os pastores são avaliados por critérios humanos e não bíblicos. Já não importa se são irrepreensíveis, maridos de uma só mulher, vigilantes, sóbrios, honestos, hospitaleiros, aptos para ensinar, não ébrios, não espancadores, não gananciosos, moderados, não contenciosos, não avarentos, se governam bem suas casas, se são bons esposos, bons pais, exemplares no lar e fora dele, não neófitos, não soberbos, nem se “manejam bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15), a lista é outra, e ela contempla outras necessidades e interesses. Não é sem motivo que o evangelicalismo atual segue em franco declínio.

Embora o texto de Jeremias 3:15 trate sobre reis e governantes, e não sacerdotes (mas alguns eram também líderes espirituais), esta é uma paráfrase ideal para descrever a realidade de algumas igrejas atuais: “E escolheremos para nós pastores segundo o nosso coração, segundo nossos critérios, os quais nos apascentarão conforme nossas vontades e interesses” (Jeremias 3:15 — Bíblia da Igreja Herege).

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Onde está a cruz?

A cruz é o lugar onde renunciamos à nossa própria vida para desfrutarmos da vida abundante que só Cristo pode dar; uma vida cujo prazer, contentamento e propósito está naquele que é o autor e consumador da nossa fé. A cruz é o lugar onde é mortificado o adorador de si mesmo para, na Palavra e pelo poder do Espírito, ser gerado um novo ser capaz de adorar a Deus em espírito e em verdade

 

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4:22-24)

Pr. Cleber Montes Moreira

Numa postagem no Facebook uma internauta elogiava jovens evangélicos de um determinado grupo por sua prontidão para servir “atendendo ao chamado”. Nas fotos, jovens descontraídos, demonstrando alegria, em cenas divertidas. Nos vídeos, coreografias ao som de músicas dançantes em ambiente com paredes escuras e luzes de neon — não consegui identificar se a celebração cúltica ocorria num templo religioso ou outro espaço próprio para shows. No palco “animadores” e “dançarinos” comandavam a galera, tendo num telão projetada a imagem de um leão. Durante aquela performance espetacular a maioria, aglomerada, usava máscaras — não entendi se em obediência a algum protocolo determinado por algum decreto, em decorrência da pandemia, ou se, inconscientemente, como indicativo de falsa espiritualidade.

Observando atentamente aquelas fotos e vídeos, notando com atenção cada cena registrada do ambiente, surgiu em minha mente uma pergunta inquietante: Onde está a cruz? Não falo sobre uma cruz de madeira, metal ou outro material, pendurada em algum pescoço, fixada ou projetada numa parede — porque este tipo de cruz não havia, mesmo —, mas da cruz do evangelho. Falo da cruz sobre a qual Jesus falou: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mateus 10:38). Falo da cruz sem a qual ninguém é, verdadeiramente, cristão. Falo da cruz de quem renunciando à sua vida, por amor ao Senhor, encontra a vida abundante que só Cristo pode dar (Mateus 10:39); uma vida cujo prazer, contentamento e propósito está naquele que é o “autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:2); uma cruz pela qual somos libertos da antiga natureza, do velho modo de viver, corrompido pelos desejos impuros e pelo engano, tendo nossos pensamentos e atitudes renovados pelo Espírito Santo, sendo, agora, revestidos por uma nova natureza, criada para ser justa e santa, segundo o padrão de Deus (confira Efésios 4:22-24); falo da cruz que nos transforma em “verdadeiros adoradores” cuja adoração é “em espírito e em verdade” (João 4:22-24), não na carne, não no engano, não movida pelo hedonismo, tendo não o homem, mas Cristo como centro e Sua glória como propósito.

Culto a Deus não é oferecido com agitação de corpos, danças, gritos, cambalhotas, declarações triunfalistas, sermonetes descontextualizados… Devemos aprender com Paulo que o culto racional se pratica na inconformação com o mundo, renovação da mente e na experiência da vontade de Deus mediante a apresentação dos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12:1,2). Precisamos aprender da experiência de Isaías, quando os serafins em reverência cobriam com suas asas seus rostos e pés enquanto declaravam que “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”, e com o profeta que, diante da presença de Deus, em temor e reconhecimento, exclamou: “Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Isaías 6:3).

As igrejas falham quando proveem entretenimento para os jovens como estratégia para atraí-los ou “mantê-los na igreja”, produzindo, assim, um estilo carnal de ‘adoração’ descolada da cruz. Charles Spurgeon, dizia: “o diabo raramente teve uma ideia mais sagaz que sugerir à igreja que parte da sua missão é fornecer entretenimento para as pessoas, tendo em vista conquistá-las”. Não sou contra o entretenimento, no tempo e no espaço próprio, mas entendo que o “evangelho do entretenimento” não leva ninguém ao Salvador, não produz discípulos de Cristo, embora seja eficaz em produzir adesões; afinal, é natural que jovens de vida secular sejam facilmente atraídos por este tipo de oferta, uma vez que encontram na “igreja” atrativos que há mundo. Além disso, podem levar uma “vida divertida”, e até liberal, seguindo um falso evangelho capaz de aplacar suas consciências. Não é sem motivo que certa ocasião, uma famosa atriz, ao dar seu testemunho — ou tristemunho — declarou que escolheu ser membro de uma determinada igreja porque lá não havia regras, e que podia estar em comunhão com Deus e continuar fazendo tudo o que fazia antes. Certamente que o diabo se especializou em oferecer ao pecador um evangelho palatável, que não requer abnegação nem santidade, um evangelho sem exigências e sem a cruz.

Pensemos no que disse Joe Thorn: “A infiltração do entretenimento dentro do culto não é uma questão de estilo, mas de substância. O entretenimento é uma coisa boa, mas o seu propósito é o alívio da mente e do corpo, não a transformação da mente ou a edificação do espírito”.

Livros teológicos?

livros teológicos